sábado, 27 de agosto de 2016

Bioética

O início da Bioética se deu no começo da década de 1970, com a publicação de duas obras
muito importantes de um pesquisador e professor norte-americano da área de oncologia, Van
Rensselaer Potter.

Van Potter estava preocupado com a dimensão que os avanços da ciência, principalmente
no âmbito da biotecnologia, estavam adquirindo. Assim, propôs um novo ramo do conhecimento
que ajudasse as pessoas a pensar nas possíveis implicações (positivas ou negativas) dos avanços da
ciência sobre a vida (humana ou, de maneira mais ampla, de todos os seres vivos). Ele sugeriu
que se estabelecesse uma “ponte” entre duas culturas, a científica e a humanística, guiado pela
seguinte frase: “Nem tudo que é cientificamente possível é eticamente aceitável”.

Um dos conceitos que definem Bioética (“ética da vida”) é que esta é a ciência “que tem
como objetivo indicar os limites e as finalidades da intervenção do homem sobre a vida, identificar
os valores de referência racionalmente proponíveis, denunciar os riscos das possíveis aplicações”
(LEONE; PRIVITERA; CUNHA, 2001).

Todos nós sofremos influências do ambiente em que vivemos, sejam elas históricas, culturais
ou sociais. Para construirmos uma reflexão bioética adequada, devemos conhecer e entender essas
influências (afinal não podemos excluí-las de nossas vidas!).

Um aspecto bastante importante a ser considerado para que possamos construir a reflexão
bioética de maneira adequada é compreender a influência histórica exercida desde a época de
Hipócrates.

Hipócrates de Cos (séc. IV a.C.) é considerado o “Pai da Medicina”. Sua importância
é tão reconhecida que os profissionais da saúde, no dia da formatura, fazem o “Juramento de
Hipócrates”. Segundo esse juramento, os profissionais devem se comprometer a sempre fazer o

bem ao paciente.

Os médicos, naquela época, eram considerados semideuses, e estavam encarregados
de curar as pessoas “segundo seu poder e entendimento” (como consta no juramento de
Hipócrates).

A importância desse resgate histórico é ressaltar que os médicos daquela época estavam em
uma posição hierárquica superior à das outras pessoas, e essa diferença de posição também se manifestava em um “desnivelamento de dignidades”. Isso significa que os médicos (semideuses),
ainda que tivessem a intenção de curar os doentes, eram pessoas superiores, melhores que as
outras (tinham mais valor que as outras).

Ao longo da história, a estrutura da sociedade deixou de ser piramidal, mas essa postura
“paternalista”, ou seja, na qual os profissionais da saúde são considerados “pais”, ou melhores
que os seus pacientes, ainda hoje é percebida com frequência.

Os profissionais da saúde detêm um conhecimento técnico superior ao dos pacientes,
mas não são mais dignos que seus pacientes, não têm mais valor que eles (como pessoas).
Quando o profissional se considera superior (em dignidade) a seu paciente, também temos
uma postura paternalista.

Os profissionais que se baseiam nessa postura paternalista são aqueles que não respeitam a
autonomia de seus pacientes, não permitem que o paciente manifeste suas vontades. Por outro
lado, também alguns pacientes não percebem que podem questionar o profissional e aceitam
tudo o que ele propõe, pois consideram que “o doutor é quem sabe”.

Fonte: Junqueira CR. Bioética: conceito, fundamentação e princípios

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